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quarta-feira, novembro 21, 2007
quinta-feira, julho 20, 2006
Comentário - Salmo 1.3-6 - João Calvino
Aqui, o salmista ilustra, e ao mesmo tempo confirma pelo uso de metáfora, a afirmação feita no versículo precedente; pois ele mostra em que sentido os que temem a Deus são considerados bem-aventurados, ou seja, não porque desfrutem de avanescente e infantil alegria, mas porque se encontram numa condição saudável. Há nas palavras um contraste implícito entre o vigor de uma árvore plantada num sítio bem regado e a aparência decaída de uma que, embora viceje prazenteiramente por algum tempo, no entanto logo murcha em decorrência da aridez do solo em que se acha plantada. Com respeito aos ímpios, como veremos mais adiante [Sal 37.35], eles são às vezes como "os cedros do Líbano". Desfrutam de uma prosperidade tão exuberante, tanto de riquezas quanto de honras, que nada parece faltar-lhes para sua presente felicidade. Não obstante, quanto mais alto se ergam e quanto mais expendam por todos os lados seus galhos, uma vez não possuindo raízes bem fincadas no chão, nem ainda suficiente umidade da qual venha a derivar seus nutrientes, toda a sua beleza se esvai e desaparece. Portanto, é tão-somente pela benção divina que alguém pode permanecer numa condição de "prosperidade". Os que explicam a figura dos fiéis produzindo seu fruto na estação própria, significando que sabiamente descernem quando uma coisa deve ser feita, até onde pode ser bem feita, em minha opinião revela mais sutileza do que bom senso, impondo às palavras do profeta um sentido que ele jamais pretendeu. Obviamente, sua intenção nada mais nada menos era que os filhos de Deus vicejam constantemente, e são sempre regados com as secretas influências da graça divina, de modo que tudo quanto lhes suceda é proveitoso para sua salvação. Enquanto que, em contrapartida, os ímpios são arrebatados pelas repentinas tempestades ou consumidos pelo escaldante calor. E ao dizer: produz seu fruto na estaçao própria (e produziu todo o seu fruto para maturidade), ele expressa o pleno sazonamento do fruto produzido, ao passo que, embora os ímpios aparentem precoce fecundidade, contudo nada produzem que conduza a perfeição.
Verso 4 - "Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa".
O salmista bem que poderia, com propriedade, ter comparado os ímpios a uma árvore que rapidamente murcha, à semelhança de Jeremias que os compara ao arbusto que cresce no deserto [Jr 17.6]. Considerando, porém, que tal figura não era suficientemente forte, ele os avilta ainda mais, empregando uma outra figura que os exibe por um prisma que os torna ainda mais desprezíveis. E a razão pe porque ele não mantém seus olhos postos na condição de prosperidade da qual se vangloriam por um curto tempo, mas sua mente pondera seriamente na destruição que os aguarda e que, finalmente, os surpreenderá. Portanto, eis o significado: embora os ímpios vivam no momento prosperamente, todavia vão paulatinamente se transformando em palha; pois quando o Senhor os derribar, ele os arrojará de um lado para o outro com sua fulminante ira. Além disso, com essa forma de falar, o Espírito Santo nos ensina a contemplarmos com os olhos da fé o que de outra forma nos parecereia incrível; pois ainda que o ímpio se eleve e surja de forma sobranceira, à semelhança de uma árvore imponente, que descansemos certos de que ele será como a palha ou o refugo, sabendo que no devido tempo Deus o arrojará da alta posição em que se encontra, com o sopro de sua boca.
Versos - 5 e 6: "Poranto, os ímpios não prevalecerão no juízo nem os pecadores, na congregação dos justos. Porque Jehovah conhece o caminho dos justos; mas o caminho dos ímpios perecerá".
No quinto versículo, o profeta ensina que uma vida feliz depende de uma sã consciência, e que, portanto, não é de admirar que o ímpio de repente se veja sem aquela felicidade que julgara possuir. E há implícita nas palavras uma e´spécie de concessão: o profeta tacitamente reconhece que os ímpios se deleitam e desfrutam e triunfam durante o reinado da desordem moral no mundo; justamente como os ladrões se regalam nas florestas e esconderijos entquanto se vêem fora do alcance da justiça. Ele nos assegura, porém, que as coisas nem sempre correrão bem em seu presente estado de confusão, e que quando forem reduzidas ao seu real estado, tais pessoas ímpias se verão inteiramente privadas de seus prazeres e perceberão que foram enfatuadas imaginando ser felizes. E assim percebemos que o salmista apresenta o ímpio como sendo um ser miserável, visto a felicidade ser uma benção interior procedente de uma sã consciência. Ele não nega que, antes que compareçam a juízo, todas as coisas foram bem sucedidas como eles; mas nega que sejam de fato felizes, a menos que tenham substancial e inabalável integridade de caráter para se manterem; pois a genuína entegridade dos justos se manifesta quando ela finalmente é provada. É deveras verdade que o Senhor exerce juízo diariamente, quando faz distinção entre justos e os perversos; visto, porém, que isso só é feito parcialmente nesta vida, devemos olhar mais alto se desejamos ver a Assembléia dos justos, da qual se faz menção aqui.
Mesmo neste mundo, a prosperidade dos ímpios começa a escoar-se assim que Deus manifesta os emblemas de seu juízo (porque, sendo despertos do sono, são constrangidos a reconhecer, queiram ou não, que não têm qualquer parte na assembléia dos justos); visto, porém, que isso nem sempre se concretiza em relação a todos os homens, no presente estado, devemos pacientemente esperar o dia da revelação final, quando Cristo separará as ovelhas dos cabritos. Ao mesmo tempo, devemos ter como verdade geral o fato de que os ímpios estão destinados à miséria; pois suas próprias consciências os condenam em virtude de sua perversidade; e, assim que forem convocados a pretar contas de sua vida, seu sono será interrompido, e então perceberão que estiveram meramente sonhando quando acreditavam ser felizes, sem visualizar em seu interior o real estado de seus corações.
Além do mais, as coisas, aqui, parecem ser atiradas à mercê da sorte, e como não nos é fácil, no meio da confusão prevalecente, reconhecer a verdade do que o salmista havia dito, ele, pois, apresenta, para nossa consideração, o grande princípio de que Deus é o Juiz do mundo. Isto concedido, segue-se que não pode haver outra sorte para o reto e o justo senão o bem-estar, enquanto que, em contrapartida, outra sorte não está reservada ao ímpio senão a mais terrível destruição. De acordo com toda a evidência externa, os servos de Deus não podem extrair benefício algum de sua retidão; mas, como é o ofício peculiar de Deus defendê-los e tomar providência em favor de sua segurança, eles devem viver felizes sob a proteção divina. E de tal fato podemos também concluir que, como Deus é o inexorável vingador contra os perversos, ainda que por algum tempo ele pareça não notar o que o ímpio faz, finalmente o visitará com a destruição. Portanto, em vez de admitirmo-nos ser enganados com sua imaginária felicidade, tenhamos sempre diante de nossos olhos, em circunstâncias de estresses, a providência de Deus, a quem pertence a prerrogativa de estabelecer os negócios do mundo e fazer com que, do caos, surja a perfeita ordem.
terça-feira, julho 18, 2006
Salmo 01 - João Calvino.
"Bem-aventurado é o homemque não anda segundo o conselho dos ímpios nem se detém na vereda dos pecadores, nem se assenta junto com os escarnecedores. Seu deleite, porém, está na lei de Jehovah; e em sua lei medita dia e noite" (v. 1,2).
1. Bem-aventurado é o homem - A intenção do salmista, segundo expressei acima, é que tudo estará bem com os devotos servos de Deus, cuja incansável diligência é fazer progresso no estudo da lei divina. Já que o maior contigente do gênero humano vive sempre acostumado a escarnecer da conduta dos santos como sendo mera ingenuidade e a considerar ser labor como sendo total desperdício, era de suma importância queu o justo fosse confirmado na vereda da santidade, pela consideração da miserável condição de todos os homens destituídos da benção de Deus e da convicção de que Deus e ninguém é favorável senão àqueles que zelosamente se devotam ao estudo da verdade divina. Além do mais, como a corrupção sempre prevaleceu no mundo, a uma extensão tal que o caráter geral da vida humana nada mais é senão um perene afastar-se da lei de Deus, o salmista, antes de declarar a ditosa sorte dos estudantes da divina lei, os admoesta a se precaverem para não se deixar levar pela impiedade da multidão que os cerca. Começando com uma declaração que revela sua aversão pelos perversos, ele nos ensina quão impossível é para alguém aplicar sua mente à meditação na lei de Deus, se antes não recuar e afastar-se da sociedade dos ímpios. Eis aqui sem dúvida uma admoestação em extremo necessária; porquanto vemos quão irrefletidamente os homens se precipitam nas armadilhas de Satanás; no mínimo, quão poucos, comparativamente, há que se protegem contra as fascinações do pecado. Para que vivamos plenamente conscientes dos perigos que nos cercam, necessário se faz recordar que o primeiro passo para se viver bem consiste em renunciar a companhia do ímpio, de outra sorte é inevitável que nos contaminemos com sua própria poluição
Como o profeta, em primeiro lugar, prescreve aos santos precaução contra as tentações para o mal, seguiremos a mesma ordem. Sua afirmação, de que é bem-aventurado quem não se enleia com os ímpios, é o que o comum sentimento e opinião do gênero humano dificilmente admitirá; pois enquanto todos os homens naturalmente desejam e correm após a felicidade, vemos com quanta determinação se entregam a seus pecados; sim, todos aqueles que se afastam ao máximo da justiça, procurando satisfazer suas imundas concupiscências, se julgam felizes em virtude de alcançarem os desejos de seu coração. O profeta, ao contrário, aqui ensina que ninguém pode ser devidamente encorajado ao temor e ao serviço de Deus, e bem assim ao estudo de sua lei, sem que, convictamente, se persuada de que todos os ímpios são miseráveis e que os que não se afastam de sua companhia se envolverão na mesma destruição a eles destinada. Como, porém, não é fácil evitar os ímpios com quem estamos misturados no mundo, sendo-nos impossível destanciar-nos totalmente deles, o salmista, a fim de imprimir maior ênfase à sua exortação, emprega uma multiplicidade de expressões.
Em primeiro lugar, ele nos proíbe de andarmos em seu conselho; em segundo lugar, de determo-nos em sua vereda; e , finalmente, de assentarmo-nos junto deles.
A suma de tudo é:os servos de Deus devem diligenciar-se ao máximo por cultivar aversão pela vida dos ímpios. Como, porém, a habiidade de Satanás consiste em insinuar seus embustes, de uma forma muito astuta, o profeta, a fim de que ninguém se deixe insensivelmente enganar, mostra como paulatinamente os homens são ordinariamente induzidos a desviar-se de seu reto caminho. No primeiro passo, não se precipitam em franco desprezo a Deus; mas, tendo uma vez começado a dar ouvidos ao mau conselho, Satanás os conduz, passo a passo, a um desvio mais acentuado, até que se lançam de cabeça para baixo em franca transgressão. O profeta, pois, começa com CONSELHO, termo este, a meu ver, significando a perversidade que ainda não se exteriorizou abertamente. A seguir ele fala de VEREDA, o que deve ser tomado no sentido de habitual modo ou maneira de viver. E coloca no ápice da ilustração o ASSENTO, uma expressão metafórica que designa a obstinação produzida pelo hábito de uma vida pecaminosa. Da mesma forma, também, devem-se entender os três verbos: ANDAR, DETER e ASSENTAR. Quando uma pessoa ANDA voluntariamente em consonância com a satisfação de suas corruptoras luxúrias, a prática do pecado o enfatua tanto que, esquecido de si mesma, se torna cada vez mais empedernida na perversidade, o que o profeta denomina de DETER-SE no caminho dos pecadores. Então, por fim, segue-se uma desesperada obstinação, a qual o profeta expressa usando a figura do ASSENTAR-SE. Se porventura existe a mesma gradação nas palavras hebraicas - reshaim, chataim e letsim, ou seja, um aumento gradual do mal, há, a não ser, talvez, na última palavra. Pois aqueles que se denominam de ESCARNECEDORES, tendo-se desfeito de todo o temor de Deus, cometem pecado sem qualquer restrição, na esperança de escapar impunemente, e sem compunção ou temor se divertem do juízo de Deus como se jamais houvesse um dia em que serão chamados a prestar-lhes contas. O termo hebraico - chataim - significando a perversidade franca, é mui apropriadamente associado ao termo VEREDA, o qual significa uma professa e habitual maneira de viver. Ora, se nos dias do salmista necessário se fazia que os devotos adoradores de Deus evitassem a companhia dos ímpios, a fim de manterem sua vida bem estruturada, quanto mais no tempo presente, quando o mundo se transformou em algo muitíssimo mais corrupto, nosso dever é evitar criteriosamente dotas as ameaças da sociedade, para que nos conservemos incontaminados de todas as suas impurezas. O profeta, contudo, não só prescreve aos fiéis que se mantenham a distância dos ímpios, temendo ser contaminados por eles, senão que sua admoestação implica ainda que cada um seja prudente, a fim de que não se corrompa e nem se entregue a impiedade. Mesmo que uma pessoa não tenha ainda contraído todo o aviltamento provindo dos maus exemplos, no entanto é possível que se assemelhe aos perversos, ao imitar espontaneamente seus hábitos corruptos.
No segundo versículo, o salmista não declara simplesmente ser bem-aventurado aquele que teme a Deus, como faz em marca da piedade, nos ensinando que Deus só é corretamente servido quando sua lei for obedecida. Não se deixa a cada um a liberdade de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação, senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus. Quando Davi, aqui, fala da LEI, não de deve deduzir como se as demais partes da Escritura fossem excluídas, mas, antes, visto que toda a EScritura autra coisa não é senão a exposição da lei, ela é como a cabeça dob a qual se compreende todo o corpo. O profeta, pois, ao enaltecer a lei, inclui todo orestante dos escritos inspirados. É mister, pois, que ele seja compreendido como a exortar os fiéis a meditarem também nos Salmos. Ao caracterizar o santo SE DELEITANDO na lei do Senhor, daí podemos aprender que a obediência forçada ou servil não de forma alguma aceitável diante de Deus, e que só são dignos estudantes da lei aqueles que se chegam a ela com uma mente disposta e se deleitam com suas instruções, não considerando nada mais desejável e delicioso do que extrair dela o genuíno progresso. Desse amor pela lei procede a constante MEDITAÇÃO nela, o qeu o profeta menciona na última cláusula do versículo; pois todos quantos são verdadeiramente impulsionados pelo amor à lei devem sentir prazer no diligente estudo dela.
Comentário - Romanos 1.2-4 - J. Calvino
Desta passagem podemos deduzir a natureza do evangelho, pois Paulo nos ensina que ele não fora pregado pelos profetas, mas só prometido. Se, pois, os profetas prometeram o evangelho, segue-se que o mesmo foi revelado quando o Senhor finalmente manifestou-se em carne. Portanto, aqueles que confundem as promessas com o próprio evangelho se equivocam, visto que o evangelho propriamente dito é a pregação estabelecida do Cristo manifestado, em quem as próprias promessas se concretizam.
3. Concernente a seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, - Nesta importante cláusula Paulo nos ensina que todo o evangelho está contido em Cristo. Desviar-se de Cristo, mesmo que seja apenas um passo, significa privar-se alguém do evangelho. Visto que Cristo é a viva expressa imagem do Pai, não há por que nos sentirmos surpresos com o fato de que ele é simplesmente posto diante de nós como Aquele que é tanto o objeto quanto o centro da nossa fé. As palavras, pois, constituem uma descrição do evangelho, com as quais Paulo sumaria seu conteúdo. Tenho traduzido as palavras Jesus Cristo, nosso Senhor, que vêm em seguida, no mesmo sentido de seu Filho, por sentir que este procedimento se adequa melhor ao contexto. A conclusão, pois, é que quando alguém logra algum progresso no conhecimento de Cristo, traz com esse progresso tudo o que pode ser aprendido do evangelho. Em contrapartida, buscar sabedoria à parte de Cristo significa não meramente temeridade, mas também completa insanidade.
Que nasceu. - Divindade e humanidade são dois requesitos que devemos procurar em Cristo, caso pretendamos encontrar nele a salvação. Sua divindade contém poder, justiça e vida, os quais nos são comunicados por sua humanidade. Por esta razão o apóstolo expressamente mencionou ambas em seu sumário do evangelho, ao declarar que Cristo manifestou-se na carne, e que na carne ele declarou ser o Filho de Deus. Igualmente João, após afirmar que o Verbo se fez carne, acrescenta queem sua própria carne havia glória como a do Unigênito do Pai [Jo 1.14]. A nota especial que Paulo apresenta da linhagem e descendência de Cristo, de seu ancestral Davi, é totalmente deleberada, pois esta cláusula particular nos lembra a promessa e remove toda e qualquer dúvida que porventura venhamos nutrir de ser ele Aquele que fora previamente prometido. A promessa que fora feita a Davi se tornou tão amplamente conhecida, que se generalizou entre os judeus o hábito de qualificar o Messias como sendo o Filho de Davi. O fato de Cristo ser o descendente de Davi contribui, portanto, para a confimação de nossa fé. Paulo adiciona, segundo a carne, - para demosntrar que Cristo possuía algo superior à carne - algo que era oriundo do céu, e não de Davi, a saber: a glória da natureza divina, a qual ele menciona imediatamente. Além disso, ele não só declara, por meio dessas expressões, que Cristo possuía carne real, mas também faz a clara distinção entre as naturezas humana e divina de Cristo, refutando assim o blasfemo absurdo de Serveto, o qual determinou que a carne de Cristo era composta de três elementos não criados.
4. Declarado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos; - Ou determinado [definitus]. Paulo está dizendo que o poder da ressurreição representava o decreto pelo qual, como se acha no Salmo 2.7, Cristo foi declarado Filho de Deus:"Neste dia eu te gerei" - Gerar, aqui, tem referência àquilo que foi feito conhecido. Certos intérpretes encontram nesta passagem três provas distintas da divindade de Cristo - a primeira é o poder (pelo qual compreendem os milagres); a segunda é o testemunho do Espírito; e a terceira é a ressurreição dentre os mortos. Prefiro, contudo, juntar estas três provas e sumariá-las assim: Cristo foi declarado Filho de Deus pelo exercício público de um poder verdadeiramente celestial, ou, seja, o poder do Espírito Santo, quando ele ressuscitou dos mortos. Este poder é possuído quando é selado pelo mesmo Espírito em nossos corações. A linguagem do Apóstolo apoia esta interpretação. Ele afirma que Cristo foi declarado com poder, porque foi visto nele o poder que, com propriedade, pertence a Deus. Isso na verdade se fez ainda mais evidente em sua ressurreição, assim Paulo em outra parte, após declarar que a fraqueza da carne se fez manifesta na morte de Cristo, exalta o poder do Espírito em sua ressurreição [2Co 13.4]. Esta glória, contudo, não se fez notória até que o mesmo Espírito a imprimisse em crentes individualmente experimentam em seus próprios corações com o espantoso poder do Espírito, o qual Cristo manifestou ao ressuscitar dos mortos, é claro à luz de sua expressa menção de santificação. É como se dissesse que o Espírito, ao mesmo tempo que santifica, também confirma a ratifica essa prova de seu poder que uma vez demonstrou. As Escrituras com freqüência atribuem títulos ao Espírito de Deus, os quais servem para elucidar nossa presente discussão. Daí o Espírito ser chamado por nosso Senhor, o Espírito da verdade [Jo 14.17], em razão de seu efeito como descrito nessa passagem. Além do mais, diz-se que o poder divino foi exibido na ressurreição de Cristo, visto que ele ressuscitara por seu próprio poder, como ele mesmo testificou: "Destruí este templo, e em três dias o reconstruirei"[Jo 2.19]; "ninguém a toma [ minha vida ] de mim" [Jo 10.18]. Cristo triunfou sobre a morte, à qual se entregou em razão da debilidade de sua carne, triunfo esse não em virtude de algum auxílio externo, mas pela operação celestial de seu próprio Espírito,
segunda-feira, julho 17, 2006
Romanos - João Calvino.
Em 1539, Calvino, o jovem de 30 anos, podia finalmente tornar a fazer o que julgava deterninado à sua vida: o estudo, a reflexão e a pregãção. Depois de uma rápida e turbulenta passagem por Genebra (1536 - 1538), agora está em Estrasburgo,[Calvino seria persuadido pelos genebrinos, e outros amigos, a voltar a Genebra, o que fez em 13/09/1541, implantando, a partir de então, uma intensa reforma naquela cidade. Ali permaneceria até o fim de sua vida (17/5/1564)]- disposto a recomeçar sua vida pastoral e de estudo, tendo, então, como marco dessa nova fase a redação de seu comentário do livro de Paulo aos Romanos (1539)- [Publicado em março de 1540. Outras edições foram publicadas em 1551 e 1556. É provável que esse trabalho seja o resumo de suas aulas ministradas em Genebra, no período de (1536 - 1538)]. Esse foi seu primeiro comentário de um livro da Bíblia. A partir de Romanos, ele comentará quase todos os livros da Bíblia; e, no púlpito, fará também exposição da maior parte dos livros das EScrituras, tornando-se um dos maiores e mais importantes exegetas de todos ostempos, sendo, não sem razão, alcunhado de "O Exageta da Reforma".
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"Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser Apóstolo, separado para o evangelho de Deus" (Rm 1.1)
1. Paulo. A questão do nome - Paulo - não é de tanta importância que demande demasiado tempo gasto em discuti-la. Não se pode acrescentar nada à discussão que não haja sido freqüentemente reiterado por outros intérpretes. Eu evitaria fazer qualquer referência a ela, se não fosse o fato de ser possível dizer algo àqueles que porventura apresentem algum interese sem serem excessivamente tediosos, visto que minhas observações sobre o tema serão breves.
A teoria de que o ápóstolo assumira esse nome como lembraça de seu sucesso na conversão do procônsul Sérgio é desmentida pelo próprio Lucas (At 13.7,9), o que deixa claro que Paulo tinha esse nome antes mesmo desse tempo. Não creio, tampouco, ser provável que esse nome fosse dado a Paulo por ocasião de sua própria conversão. Agostinho, creio eu, deu seu endosso a este hipótese simplesmente porque ela lhe propiciara a oportunidade de apresentar algum argumento sutil em sua discussão sobre o Saulo auto-suficiente, o qual se converteu em um mui pequeno (parvulum) [Nota - Expressando assim o significado de Paulus, que em latim é pequeno. "Paulo", diz o notório Elnathan Parr, "significa pequeno, e deveras não impropriamente, porque lemos que ele era de estatura baixa e de ter uma voz bem deficitária, levando muitos a pensar que essa foi a objeção contra ele em 2Co 10.10"]discípulo de Cristo. Orígenes, entretanto, é mais coerente em sua conclusão, dizendo que Paulo era portador de dois nomes. É bem mais provável que haja sucedido que o nome familiar, Saulo, lhe fora dado por seus pais como indicativo de sua religião e raça; enquanto que o sobrenome, Paulo, lhe fora adicinado como evidência de seu direito de cidadania romana [ Nota - A maioria dos escritores concoda com este ponto de vista, considerando Saulo como seu nome hebreu, e Paulo como sendo seu nome romano]. Esta constituía uma grande honra que era de muita importância nos dias de Paulo, aqual seus pais não queriam ocultar, embora não lhe dessem tanto valor que deixassem que a mesma obscurecesse a evidência de sua origem israelita. Entretanto, este foi o nome que Paulo geralmente usou nas Epístolas, talvez porque era um nome bem mais notório e mais comum nas igrejas às quais escrevia, bem como mais aceitável no Império Romano e menos notório no seio de seu próprio povo (judeu). Paulo, naturalmente, procurou evitar as suspeitas desnecessárias e o violento desprazer ocasionado pelos nomes judaicos em Roma e suas províncias, evitando igualmente excetar as paixões de seus compatriotas, bem como tomar precaução em prl de sua segurança pessoal.
Servo de Jesus Cristo - Estas são distinções pelas quais Paulo designa a si próprio com o fim de assegurar autoridade para seu ensino. Ele faz isso de duas formas, a saber: primeiro, ratificando sua vocação para o apostolado;[Nota - "Um apóstolo chamado - vocatus apostolus: Nossa versão traz "chamado para ser apóstolo". A maioria considera 'chamado' aqui no sentido de escolhido ao eleito, "um apóstolo escolhido". O professor Stuart observa que essa palavra nos escritos de Paulo, tem sempre o sentido de vocação eficiente, e significa não só o convocado, mas o eficazmente convocado. Ele cita 1Co 1.1,2; 24; Rm 1.6,7;8.28; compardos a Gl 1.15; Jud 1; Hb 3.1; Rm 11.29; Ef 4.1.
Ele era apóstolo por vocação, ou como traduz Beza, "pela vocação de Deus - ex Dei vocatione apostolus". O significado é o mesmo expresso por ele próprio em Gl 1.1. Turrettin traduz: "Um apóstolo chamado" e "chamado para ser apóstolo" é esta: a primeira expressão comunica a idéia de que ele obedeceu a vocação; e a autra não] e, segundo,anunciando a seus leitores que esta vocação tinha algo a ver com a Igreja de Roma. Tal fato, para Paulo, era de grande importância, não só que seria considerado como apóstolo pelo chamado de Deus, mas também que seria conhecido como aquele que fora destinado à Igreja de Roma. Ele, pois, declara ser servo de Cristo e chamado para o ofício de apóstolo, querendo significar que sua conversão em apóstolo não era uma intrusão casual. Ele, pois, acrescenta imediatamente a seguir que fora separado [ selectum - selecionado - separado, posto a parte; 'segregatus', Vulgata; 'separatus', Beza. "Os fariseus eram intitulados (separatistas). Separavam-se para o estudo da lei; neste sentido podensos ser chamado com a mesma expressãp - separado para a lei - no original. Em ilusão a isso, diz Drusius, foi assim que o apóstolo se intitulou em Romanos 1.1 - separado para o evangelho, quando fui chamado dentre os fariseus para ser um pregador do evangelho. "Separado é o termo aditado tanto por Doddridge quanto por Macknight, e bem assim por nossa versão], fortalecendo, assim, sua insistência em dizer que era um dentre muitos, mas que era um apóstolo do Senhor, particularmente eleito. Nesse sentido, ele está também transitando seu argumento do geral para o particular, visto que o apostolado é um gênero particular de ministério. todos quantos exercem o ofício do magistério são considerados pertencentes ao número de servos de Cristo; os apóstolos, porém, têm uma distinção única que os caracteriza enter todos os demais. Portanto, a separação de Paulo(mencionada mais adiante) expressa tanto o objetivo quanto a ação de seu apostolado, pois sua intenção era fazer uma breve referência ao propósito de sua eleição para este ofício. Servo de Cristo, portanto, que ele aplica a si próprio, é um título que compartilhava como todos os demais mestres. Ao reivindicar o título de apóstolo, contudo, ele atribuiu a si próprio certa prioridade. Visto, porém, que aquele que usurpa o ofício apostólico não pode atribuir a si autoridade alguma, Paulo lembra a seus leitores que ele fora designado por Deus pessoalmente.
Assim, o significado da passagem consiste em que Paulo não era servo de Cristo no sentido ordinário, mas apóstolo, designado pelo chamamento divino, e não por quaisquer pretensiosos esforços oriundos dele próprio. Nesse respeito, vem em seguida uma explanação mais clara de seu ofício apostólico, já que sua comissão era pregar o evangelho. Não concordo com aqueles que se reportam a esta vocação, a qual Paulo ora descreve como sendo a eterna eleição divina, e interpretam a separação no sentido ou de sua separação desde o ventre materno (como mencionado em Gl 1.15), ou de sua escolha (referida por Lucas) para pregar aos gentios. A glória de Paulo consiste simplesmente em ser Deus o autor de sua vocação. Não podia haver qualquer suspeita de que ele estivesse apropriando-se indeviamente desta honra com base em sua pretensão pessoal [Nota - Há quem combine as quatro separações. "Posto à parte no eterno conselho de Deus e desde o ventre de sua mãe (Gl 1.15) e, pelo especial mendamento do Espírito Santo (At 13.2), confirmado pela constituição da Igreja (At 13.3; Gl 2.9)" Parr. Mas o objeto aqui parece ter sido aquele declarado por Calvino: não é justo nem prudente conectar qualquer idéia com a palavra, exceto aquela que o contexto requer; pois agir ao contrário só serve pra criar confusão ].
Deve-se notar aque que nem todos estão qualificados para o ministério da Palavra. Este requer uma vocação especial. Aqueles que acreditam que estão bem qualificados devem revestir-se de especial cuidado para não assumirem o ofício sem a vocação. Discutiremos em outra parte o caráter da vocação de apóstolo e bispos; o ponto, porém, a ser observado é que a função de um apóstolo consista na pregação do evangelho. Este mesmo fato prova o absurdo daqueles cães raivosos cuja mitra, bastão e pretensões similares são únicas marcas distintivas, mas cuja vanglória consiste em dizer qeu são os sucessores dos apóstolos.
O termo servo nada mais, nada menos, significa ministro, pois ele indica aquolo que é de caráter oficial. [ Nota - Moisés, Josué, Davi, Neemias e outros, foram, num sentido semelhante, chamados servos; e assim também nosso Senhor. Foram oficialmente servos.]. Menciono isso a fim de invalidar a impessão equivocada daqueles que se comprazem em filosofar sobre o termo, com base na pretensão de haver um contraste entre o minsitério de Moisés e o de Cristo.